segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Livro: A morte de Ivan Ilitch - Leon Tolstoi

Numa obra de nuances atemporais, Tolstoi descreve numa narrativa não linear, coisa pouco comum para a época, a "gloriosa" vida de Ivan Ilitch, personagem fictícia de um magistrado bem sucedido e influente da Rússia do fim do século XIX.

Alegoria muito bem construída de uma situação que poderia facilmente se confundir com a de um sujeito de nosso tempo: O homem que direciona todos os seus esforços e sua essência para a relação com o trabalho, e só quando se vê acometido por uma doença incurável passa a ter noção real da finitude da vida e consequentemente do quanto a sua carreira fora importante para desviá-lo de sua própria existência. Em outras palavras, mais um homem (ou menos  um, se preferir) que passou pela vida como uma "importantíssima" peça da engrenagem social contemporânea.  

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Poema: Rego Junior



ORDEM NUMÉRICA

Nem a guerra fria
esquentando a ganância
de suas cédulas capitalistas,

Nem as máquinas em serviço
lucrando alto nos países baixos.

De que serve o bolso farto
e a mente vazia?

Por que enquadrar a Turquia em primeiro lugar,
e emoldurar a América Anglosaxônica?

Se depois de Mercúrio, Vênus...
somos todos terceiro mundo


Rego Junior

domingo, 13 de novembro de 2011

O Bicho - Manoel Bandeira


OPORTUNISMO


Ouvi dizer de um amigo
Que as pessoas morrem mais
às segundas pela manhã.
Ele se entristeceu...
E eu invejei!
Gostaria de morrer numa segunda
Mesmo que fosse à tarde,
Teria vivido meu último final de semana
Além do que,
Seria uma semana inteira de folga


Haroldo Porto



Deparo-me bem cedo
Com esses seres sérios
Que vivem o trabalho.
Taiers, saltos, pastas e gravatas.
Eu, poeta medíocre, que ando
Nos últimos tempos,
Envolvido com o trabalho de viver
Me afundo em vertigem
E me apoio no balcão.
Me vem a lembrança do encontro marcado,
Não o do Sabino, o do salário
Processos, carimbos, protocolos
E minha máquina de escrever,
contemporânea e com vírus.
Reequilibrado, peço três pães
E um jornal pra não ler.
Volto pra casa, vou tratar de minha cinefilia,
Dar palpites no almoço e observar o sol,
Até meio-dia, quando eu meio sério,
Pego Drummond e o ônibus.


Haroldo Porto


Amor em 14 segundos

domingo, 6 de novembro de 2011

Filme: A Liberdade é Azul


Produção franco-polonesa de 1993, "A Liberdade É Azul" é o episódio inicial da consagrada trilogia das cores de Kieslowski, seguido por:  "A Igualdade É Branca" e " A Fraternidade É Vermelha", ambos de 1994, todos inspirados nos ideais da Revolução Francesa.
               
A Liberdade É Azul é um filme de bela fotografia e que tem suas mensagens muito mais ligadas ao sentimento em relação às imagens associadas à música do que às falas, propriamente ditas. Com uma cena inicial extremamente bem montada, numa linguagem muito diversa da previsivel construção hollywoodiana, Kieslowski mostra logo de cara sua poesia sem poema num acidente de carro onde a protagonista perde o marido e a filha e se vê diante de uma liberdade que semanticamente pode ter um significado terrível.


Interessante que nesse mesmo ano Juliette Binoche recusou o papel principal oferecido por Steven Spielberg no filme campeão de bilheteria Jurassic Park para protagonizar A Liberdade É Azul. Sem falar que Catherine Deneuve já havia anos antes se oferecido para filmar de graça com Kieslowski. São exemplos como esses que demonstram todo o talento e prestígio do diretor polonês.




E foi em estado de êxtase e pura admiração ao assistir à cena do acidente acima citada, que me veio o poema abaixo:



 

TRIBUTO A KIESLOWSKI

Uma roda que roda
Depressa demais
Nesse mundo que é cinza e roda
Depressa demais
A menina que ao vidro acha tudo
Demorado demais
Na janela uma mão sente o vento bater
Forte demais
O homem só acelera
E não aparece jamais
Noutro extremo da estrada o rapaz e seu jogo que espera
há tempo demais
quer ganhar  mais um ponto,  carona
e nada mais
O carro que vem e  que passa
Depressa demais
Barulho, explosão, fogo  e corre rapaz 
E a menina que não há mais
E o homem que não há mais
Há só um suspiro,
a mulher, sua dor
e  a liberdade que é azul



                 Haroldo Porto

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Morte do Amor


A MORTE DO AMOR


No túmulo da última que morreria
 Ainda estou de sentinela
Baleado, cansado, ferido.
Feliz por ter sobrevivido
O amor sim sepulta a esperança.
Mas também um dia... Morre.


Haroldo Porto

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Poema Sujo

                                     




Os poemas devem mesmo

ser sujos

Dizem o que há pra ser dito

 e ponto.

Além do que não há tempo

 de passá-los

a limpo


Haroldo Porto